Defesa da Fé

Salvação por Fé e por Obras
PERGUNTA
Nome:
Raul
Enviada em:
19/10/2004
Local:
Fortaleza - CE,
Religião:
Evangélica
Idade:
42 anos
Escolaridade:
Pós-graduação concluída
Profissão:
Físico

Caro Paulo, Salve o Senhor, “único digno de nossa reverência, louvor e adoração pois Ele é o Criador; os demais são apenas criaturas”!

Recebi seu e-mail pouco educado respondendo à minha mensagem de comentários feitos sobre colocações do sr. Orlando. Como você pode se achar um cristão verdadeiro se responde às mensagens que são enviadas de forma tão mal educada e irônica? Falta-lhe amor no coração. Parece-me que você e o sr Orlando tem muito rancor no coração. A forma como vocês não poupam acusações arrogantes tipo "herege" faz assemelhar-vos aos tiranos, assassinos de inocentes, da "Santa" Inquisição que torturou e matou muitos cristãos verdadeiros (aqueles salvos por Jesus) em nome da "Igreja Mater infalível". Não estou dizendo aqui que vocês sejam assassinos, veja-se bem, vocês parecem não querer entender o que escrevemos pois no meu e-mail anterior eu comentei versículos da Bíblia citados pelo sr. Orlando. Eu não fiz como você disse "...escolhendo, e mal, trechos da Sagrada Escritura que lhe interessam...". Repito, eu fiz comentários somente sobre trechos escolhidos pelo sr. Orlando. Na realidade, o sr Orlando usou os referidos trechos de forma solta e fora do contexto dos capítulos em que estavam inseridos (sem exegese adequada). Somente no final da minha mensagem coloquei o verso de Efésios 2.9 além dos versos usados pelo sr. Orlando.
Eu não disse que a Lei foi abolida, eu disse que interessa-nos (convém-nos) buscar obedecê-la mas não conseguimos de todo. Você consegue? Todo o tempo? O rico, de Mateus 19, disse que vinha observando os mandamentos. E Jesus lhe testou solicitando que ele vendesse os seus bens para distribuir aos pobres. Jesus pediu ao rico uma prova de sua alegação de ter cumprido os mandamentos principalmente o de amar ao próximo mas o rico traiu a própria alegação e demonstrou que era um pecador carente de salvação. Se ele vinha obedecendo fielmente os mandamentos, teria aceito imediatamente a proposta de Jesus. Ou supondo que ele realmente vinha cumprindo fielmente os mandamentos (com isso alcançaria a sua salvação pelo seu esforço próprio) logo em seguida fraquejou e deixou de cumprir o mandamento de amor ao próximo não aceitando a proposta de Jesus.
Os judeus antes de Cristo buscavam perdão de seus pecados através dos sacrifícios mosaicos (ofertas pelos pecados, holocaustos, etc) além de tentarem guardar os mandamentos. Como observar os mandamentos não era fácil, para a sua salvação, devido à natureza pecaminosa do homem, Deus lhes ofereceu o recurso extra dos sacrifícios mosaicos. O último, mais perfeito e definitivo destes sacrifiícios foi, evidentemente, o de Jesus na cruz. Ainda em relação à Mateus 19 (do rico), lê-se na Bíblia: “os discípulos disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? Jesus, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível”. Alguns poucos conseguiram agradar a Deus, por alguns momentos de suas vidas, como os patriarcas (Hebreus 11:2) e outros. A Bíblia diz, porém, que todos pecaram (Romanos 3:23). Para ser salvo só através do cumprimento dos mandamentos, seria necessário cumprí-los integralmente, sempre, sem deslizar (pecar) em nenhum momento. O homem pecador pode conseguir cumprir todos os mandamentos em determinado momento mas cair no pecado logo em seguida.
Com respeito a Mateus 25:31-46, talvez eu não tenha explicado claramente: a Bíblia diz, apenas, que os gentios (no seu julgamento) de todas as nações que sobreviverem à Tribulação (que não é a nossa época) terão o seu relacionamento íntimo com Deus evidenciado através do bom tratamento (boas obras) dispensado aos judeus (pequeninos irmãos, versículo 40). Esse é um caso especial.
Na questão da fé e das obras, eu me enganei no queria escrever. Não tive o cuidade de reler o que escrevi. Tiago não afirmou que podemos ser salvos por obras, mas que uma fé que não produz boas obras é uma fé morta pois tanto Tiago como Paulo definiram a fé como uma confiança em Cristo viva e produtiva. Tiago está louvando as obras vivas que demonstram a fé viva. Paulo referiu-se ao início da vida cristã de uma pessoa; Tiago referiu-se à vida de obediência e santidade como evidência exterior da salvação. É importante ressaltar que Tiago combateu, com isso, o ensino de que não importa qual seja a conduta da pessoa, uma vez que creia. A Bíblia não é contraditória pois é a Palavra inspirada de Deus. Tiago não contradisse a justificação pela fé exposta por Paulo. Além disso, alguém consegue apontar alguma contradição nos livros de Paulo. Ele iria errar na questão da justificação da fé?
Para finalizar, no verdadeiro cristão a ironia e o desamor não fazem parte de sua vida cristã pois elas não são os frutos do Espírito (Gálatas 5:22) que acompanham os cristãos salvos. Reflita bem nas colocações bíblicas deste e-mail. Leia com muito cuidado. Muitas vezes, as pessoas não dão atenção a determinadas coisas se estas contrariam as suas crenças. Mas, e se essas coisas forem as certas?

Não se sinta ofendido, mas, infelizmente, os Católicos Romanos erram porque honram e servem mais à criatura (Maria) do que o Criador ! (Romanos 1:25). Os Católicos Romanos transformaram, na prática, a Trindade em um Quarteto com Maria (ao qual eles atribuem várias qualidades da Divindade) como sendo a quarta pessoa. Mas ainda há tempo de se corrigir esse grave erro.

Desejo, de todo o coração, que você e o sr Orlando repensem bem no que crêem, orem (a Deus) pedindo esclarecimento, discernimento, que este lhes mostrará o que Ele aprova e o que é bom.

Em Cristo,

Raul
RESPOSTA


"E sendo já meio dia, Elias escarnecia-os, dizendo: Gritai mais alto, porque ele é um deus (Baal) e talvez esteja falando, ou em alguma estalagem, ou em viagem, ou dorme, e necessita que o acordem" (III Reis, 18:27 ou I Reis, 18:27 na mutilada bíblia protestante)

Caro Raul, "profeta da torneira da graça", salve Maria "mãe do meu Senhor" (Lucas, 1:43)

Você condena nossa ironia ao criticar a sua infundada alegação de que um dia Deus vai abrir a torneira da Graça para as boas obras, que trataremos novamente mais a frente. Talvez você também condene a ironia de Santo Elias, ao escarnecer os profetas de Baal, ou ache Nosso Senhor pouco educado ao chamar aos fariseus de "Serpentes! Raça de Víboras! Como escapareis da condenação ao inferno?"

E São Paulo então, era um falso cristão?

Você me responderia que não, é lógico.

Mas são Paulo, em sua carta aos Filipenses, os admoesta contra os judeus: "Guardai-vos desses cães, guardai-vos desses falsos operários, guardai-vos destes mutilados!" (Filipenses, 3:2).

Quem sabe você pense que São Paulo, Santo Elias, e até mesmo Nosso Senhor guardassem rancor em seus corações...

Nós não atribuímos à ninguém o título de herege, nem aos protestantes nem a outros...

São eles que "conquistam" este título para si mesmos ao se oporem ao que sempre foi ensinado pela Santa Igreja Católica Apostólica Romana, verdadeira defensora da Fé e guardiã incansável da Verdade à ela confiada por Nosso Senhor Jesus Cristo.

E como ostentam este título com orgulho...

Não me darei o trabalho de discutir com você a respeito da Inquisição, da qual vê-se que não entende nada. Recomendo ao invés disso que, a título de instrução, consulte os link: http://www.montfort.org.br/perguntas/tortura.html e http://www.montfort.org.br/perguntas/calunias_inquisicao.html.

Você se engana ao dizer que não entendemos o que o senhor quis dizer ao citar os trechos mencionados. É o senhor mesmo que não entende o que pretende explicar, dado o contorcionismo verbal que empregou para tentar encontrar alguma contradição na resposta do professor Orlando.

O que não somos capazes de entender é como alguém pode compreender justo o contrário do que São Tiago disse em sua carta. Até o seu pai na heresia, Lutero, não teve como refutá-la, e nem mesmo ousou distorcê-la. No entanto, ele quis tirar a carta de São Tiago da mutilada Bíblia protestante. Lutero chamava a carta de São Tiago de "carta de palha" (Erl. LXIII, 115).

Você nos pergunta: "Eu não disse que a Lei foi abolida, eu disse que interessa-nos (convém-nos) buscar obedecê-la mas não conseguimos de todo. Você consegue? Todo o tempo?".

Ora, como já dito, Deus não imporia uma lei que não fosse possível de ser cumprida. Se tal fosse verdade, Deus seria um tirano. Nós devemos procurar respeitar a lei de Deus sempre, mas temos a mácula do pecado original que nos corrompe, nos impondo a tendência de fazer o mal.

No entanto, o católico, ao violar a lei de Deus, que são os dez mandamentos, deve-se confessar com um padre, de acordo com o sacramento da Confissão, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo: "Tendo dito estas palavras, soprou sobre eles, e disse-lhes: recebei o Espirito Santo. Àqueles que perdoardes o pecado, ser-lhe-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" (João 20:23).

E os católicos devem se confessar com coração contrito, isto é, verdadeiramente arrependidos dos pecados que cometeram e com o firme propósito de não os cometer novamente.

Ora, Jesus atribuiu aos apóstolos o poder de perdoar e de reter os pecados dos homens. Você pensa que este poder, dado expressamente aos apóstolos, morreu com o último deles?

Ora, seria uma incoerência enorme de Cristo dar um dádiva tão grande aos homens e permitir que, com a morte do último apóstolo, os homens não tivesse mais o perdão dos seus pecados através do ministério dos apóstolos. É por isso que os apóstolos, ao nomearam bispos e presbíteros, transmitiram o mesmo Espirito que receberam de Jesus a eles, conforme se pode ver na Escritura: "Apresentaram-nos diante dos Apóstolos, e estes, depois de terem orado, impuseram-lhes a mão" (Atos 6:6). Os sacerdotes católicos, legítimos representantes de Cristo e ministros dos sacramentos deixados por Ele para o bem da humanidade, são os que continuam o ministério dos apóstolos de perdoar ou reter os pecados.

Já os protestantes, ao renegar o sacramento da ordem, renegam também o sacramento da confissão, pois alegam que se confessam diretamente a Jesus, rejeitando os ministros instituídos pelo senhor "O que vos ouve, a mim ouve, e o que os despreza, a mim despreza. E quem me despreza, despreza aquele que me enviou" (Lucas 10:16).

Ora, encurralado por essa contradição, Lutero instituiu a Sola Fide, que você tanto defende, pois se somente a Fé salva, as obras, inclusive nossos pecados não contam. Tanto que Lutero disse em uma carta a Melanchton: "Crê firmemente, e peca muitas vezes".

Você prossegue:

"O rico, de Mateus 19, disse que vinha observando os mandamentos. E Jesus lhe testou solicitando que ele vendesse os seus bens para distribuir aos pobres. Jesus pediu ao rico uma prova de sua alegação de ter cumprido os mandamentos principalmente o de amar ao próximo mas o rico traiu a própria alegação e demonstrou que era um pecador carente de salvação. Se ele vinha obedecendo fielmente os mandamentos, teria aceito imediatamente a proposta de Jesus. Ou supondo que ele realmente vinha cumprindo fielmente os mandamentos (com isso alcançaria a sua salvação pelo seu esforço próprio) logo em seguida fraquejou e deixou de cumprir o mandamento de amor ao próximo não aceitando a proposta de Jesus".

Ora, meu caro, você interpreta mal as palavras de Nosso Senhor, que disse para o jovem rico: "Se queres ser perfeito...". E isto, ele disse em resposta à uma indagação do jovem rico, que após afirmar que cumpria o decálogo, perguntou-lhe o que ainda lhe faltava... Ora, se ele não tivesse feito esta pergunta, Cristo não lhe daria a resposta, pedindo que ele desse tudo o que tinha. Portanto, não foi um "teste" de Nosso Senhor, como você pretende colocar, mas um chamado ao serviço de Deus.

Veja bem, o que o moço rico rejeitou, muitos moços e moças abraçaram ao longo de 2000 anos de cristianismo, ao atenderem o chamado de Cristo e se tornarem religiosos ou sacerdotes, abrindo mão de toda riqueza material, fazendo o voto de castidade, de pobreza e de obediência, entregando tudo o que o jovem rico não quis entregar, para viver uma vida mais perfeita, a serviço de Deus.

A propósito, o senhor poderia citar alguns protestantes que abriram mão de todos os seus bens materiais, se colocando inteiramente e unicamente a serviço de Deus como os milhões de religiosos católicos que vivem ou já viveram neste mundo?

E você prossegue o seu raciocínio sem lógica:

"Ou supondo que ele realmente vinha cumprindo fielmente os mandamentos (com isso alcançaria a sua salvação pelo seu esforço próprio) logo em seguida fraquejou e deixou de cumprir o mandamento de amor ao próximo não aceitando a proposta de Jesus.".

Desta forma, você expõe uma exegese bem marxista do texto, digna da Teologia da Libertação. Você insinua com isso que devemos vender tudo o que temos e doar ao pobres para cumprir o mandamento de amor ao próximo? Os protestantes fazem isso? Você já doou tudo o que você tem para os pobres?

Esse seu pensamento não é cristão, mas sim marxista.

Quanto aos judeus antes de Cristo e da Redenção de todos nós através de Sua morte na Cruz, estes não eram exclusivamente salvos pelas obras, o que é um absurdo tão grande quanto dizer que somos salvos só pela Fé. Era necessário que os judeus tivessem Fé em Deus e em seu Messias, que iria redimir o povo eleito.

Agora passemos ao ponto nevrálgico da sua carta que é a Sola Fide, do lado protestante, e a doutrina correta, que é Fe e Obras dos católicos. Você diz:

"Tiago não afirmou que podemos ser salvos por obras, mas que uma fé que não produz boas obras é uma fé morta pois tanto Tiago como Paulo definiram a fé como uma confiança em Cristo viva e produtiva"

Ora, meu caro Raul, você se engana ao afirmar que Fé a um sentimento de confiança, pois São Paulo nos ensina que Fé é conhecimento intelectual: "Fé é o fundamento das coisas que se esperam, e o argumento das coisas que não se vêem" (Hebreus 9:1).

Portanto, a Fé é um conhecimento intelectual que assente as coisas que não se vê.

Citando, mais uma vez (espero que seja a última) a carta de São Tiago: "Que aproveitará, irmãos meus, se alguém diz que tem fé, e não tem obras? Por ventura poderá salvá-lo tal Fé?" (Tiago, 2:14) Ora, a Fé, para ser verdadeira, então deve ter obras!

E ainda: "Tu tens fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras" (Tiago, 2:18).

E para provar o que dizia, São Tiago prossegue mais adiante:

"Abraão, nosso pai, não foi ele justificado pelas obras, oferecendo o seu filho Isaac sobre o altar? Tu vês que a fé cooperava com as suas obras, e que a fé foi consumada por meio das obras." (Tiago, 2: 21-22)

Veja bem, Raul, o que diz São Tiago como exemplo da justificação por Fé e obras: Abraão foi "justificado pelas obras" e que a fé dele "fé foi consumada por meio das obras".

Ora, só somos salvos pelos méritos infinitos de Nosso Senhor Jesus Cristo, e nossas obras, sem Fé, são palha, são nada. Da mesma forma que a Fé sem obras não salvam, as obras sem Fé também não salvam. Portanto, somos justificados por nossa Fé e por nossas obras. O Concílio de Trento anatematiza a doutrina da salvação somente pelas obras:

"811. Cân. 1. Se alguém disser que o homem pode ser justificado perante Deus pelas suas obras, feitas ou segundo as forças da natureza, ou segundo a doutrina da Lei, sem a graça divina [merecida] por Jesus Cristo — seja excomungado. [cfr. n° 793 s]."

E também anatematiza a doutrina da salvação somente pela Fé:

"819. Cân. 9. Se alguém disser que o ímpio é justificado somente pela fé, entendendo que nada mais se exige como cooperação para conseguir a graça da justificação, e que não é necessário por parte alguma que ele se prepare e disponha pela ação da sua vontade — seja excomungado [cfr. n° 798. 801, 804]."

O Concílio de Trento, a propósito, anatematiza também àqueles que julgam que seja impossível ao homem justificado observar os preceitos de Deus (828. Cân. 18).

Mas como você não consegue ver que as obras cooperam com a Fé e que Fé e obras nos levam à salvação neste texto de São Tiago? Isto é o cúmulo da contradição e da cegueira.

Nós não lhe pedimos que leia a Bíblia com mais cuidados, pois que a leitura da Bíblia sem ter quem a explique só pode o levar a mais erros e contradições como apresentado nessas suas enviesadas explicações que não explicam coisa alguma. Antes, rezo para que aceite a verdadeira Mestra e guia no entendimento das Escrituras, que é a Igreja Católica Apostólica Romana.

São Tiago, rogai por nós.

Paulo Sérgio Pedrosa